domingo, 15 de janeiro de 2012

A agonia do frio

Cada cinza traz questões inadiáveis. Como o fim do mundo, como o fim da vida. Principalmente, as contas que se vencerão. Ou me vencerão, nunca se sabe. Tentando entender.
Tentando pensar e esquecer.
Esquecimento útil, caloroso, morrinhento. Como uma tarde suada, abafada. Como um final de dia, final de churrasco, de piscina. Um dia de exageros e um final de tarde deplorável. A comida embrulha, sente-se um gosto amargo que nada lembra a deliciosa carne de mais cedo. A ressaca em nada se parece com a cerveja gelada e alemã holandesa austriaca de momentos antes. E as pessoas, tão ansiadas pela saudade, são memórias. Devem ter sido vistas e vividas, mas por tempo demais. Nesse tempo além, ficariam mais visíveis, mais humanas, menos importantes do que eu deveria me lembrar. Pequenas demais, humanas, merda. So servem para me atentar ao fato de minha desimportância e de como sou igual a elas.
Não se pode passar tempo demais com nada, cherrie.
O churrasco perdeu o gosto, a bebida incha até a cabeça, sente-se uma pressão indecorosa. Na barriga,inclusive. No fígado, principalmente. Ou seria pâncreas? Desculpa, não me lembro mais onde doiria. E a pele, lastimada pelo sol. Em tons de vermelhos e marrons doloridos e arrependiveis. E as pessoas, e o esquecimento. Tanto abuso, pra quê? Tanto excesso!
Pra quê? A tentativa de esquecimento traz mais forte a sensação de vazio. A murrinha do que vai saindo abre alas para o sofrimento existencial. De onde viemos, quem somos, para onde vamos. E onde estaria e para onde vai o nosso existir. As mesmas pessoas excessivas, com as mesmas novidades. Adoraria um terremoto nesse domingo.
Nasceu o bebê de numero sete milhões. Em algum lugar da Asia, como a maioria dos bebês, presumo. E não estava no churrasco que não existiu. E não foi assado e não há esquecimento total. Abre-se espaço para os problemas de sempre. Acima de tudo, nossa feiúra. Nossa existência feia, calada. A questão maior, a desimportância. Todos substituíveis.