segunda-feira, 21 de maio de 2012

Bia


Não posso dizer que descuido permitiu que a pequena viesse e sentasse em meu colo. Veio rápida, descomposta, com um cheiro doce e agradável de suor conquistado em brincadeiras. Estremeci , atônita com tal absurdo. Com o olhar tentei dizer: ‘Não venha, não sei como segurar uma criança’. As palavras me faltaram, os gestos não vieram. Ajeitou-se e aninhou seus piolhos em meu peito. Ainda tentei pensar fortemente: ’Não posso, estou ocupada, saia’. Não saiu. Pequena, suja e pacífica, aconchegou-se. Uma vez mais, tentei me desfazer daquela condição, uma vez mais a petiz coube em mim, ocupou um jeito de corpo que eu não sabia que tinha.

Eu diria: Como segurar uma criança? O que oferecer a ela? O que ela quer? Saia! Não sou sua mãe, estou ocupada, há muito que fazer. Tenho pressa, tenho objetivos, não tenho docilidade a gastar nesse momento. Não posso deixar que me vejam com uma criança no colo. Que vão pensar? Ora, é uma desleixada, passa horas com as crianças e não cumpre suas tarefas! E caso me vejam e se enterneçam? Como explicar por que essa pequena veio a mim? O que fiz por ela? Que ternura ofereço eu ao mundo? E o mundo caberia em meu colo?

A pequena, alheia a mim em sua necessidade de carinho, dormiu.

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