segunda-feira, 23 de abril de 2012

Felicidade exponencial

Tocou uma música muito bonita. Meu coração disse para a tristeza: já é hora de parar .Tive, então, vontade de sair dançando. Olharia para o motorista do ônibus e diria: Pára aqui, moço, que vou dançar. Convidaria o trocador e todos os passageiros e desceríamos ali mesmo. Íamos dançar suavemente, no meio do viaduto, pensando que os postes eram árvores.


Suavemente, os pés tocando o asfalto o chamariam: vamos, asfalto, dance! O asfalto assentiria e ondularia, de leve, para não assustar ninguém. Ondularia o suficiente para agitar árvores e os pássaros mais próximos, criando uma leve melodia.

Eu, os passageiros, o trocador e o motorista, dançando, pulando, girando... De forma delicada e caótica, no meio do asfalto.

O senhorzinho acamado diria a esposa: ‘Me ajude, mulher, que tenho de dançar.’

A mãezinha apressada diria aos seus pequenos: ‘Hoje não tem aula, vamos dançar.’

O bêbado diria à sua garrafinha redonda: ‘Venha, dance comigo!’

A fome dos mendigos embaixo do viaduto daria uma trégua e eles viriam. O dinheiro dos empresários se faria insignificante, eles largariam os paletós e viriam. As nuvens cinzentas se espalhariam, criando uma sombra tênue.

Em pouco tempo, seriamos uma multidão. Os pães do padeiro diriam: vá dançar. Os jornais da banca se espalhariam, dançando conosco. O próprio jornaleiro sorriria e viria.

Outros ônibus, incapazes de passar, parariam e nos cederiam mais pares. Os celulares cairiam, as bolsas cairiam. A dor de cada coração seria incluída naquele éter, naquela brisa que nos envolvia.

Olharíamos um para o outro com tanta cumplicidade e com uma alegria tão verdadeira que não seria preciso sorrir.

E Deus lá de cima diria: ‘Veja como são belos meus filhos’. E nos mandaria a primavera para dançar conosco.

3 comentários:

  1. Agatha Christie já era! Marcella Israel é minha escritora preferida agora!!!

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  2. Estou pasma com tanta coisa bonita por aqui! Que você é inteligente eu sempre soube, agora escritora... Seus textos são contagiantes, minha imaginação mergulhou em cada palavra e tive vontade de sair por aí dançando pra vida! Parabéns, Marcella!!!

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